A nutricionista e coordenadora do núcleo de pós-graduação em nutrição da Faculdade IDE, Joyce Moraes, explica como a alimentação pode ajudar nesse quadro
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) já foi diagnosticado em cerca de 4% da população e, só aqui no Brasil, já são quase dois milhões de adultos que apresentam o transtorno, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). É mais comum ouvirmos falar sobre esse quadro em crianças, mas, se o diagnóstico não for feito ainda na infância, vamos ter pessoas maduras sofrendo com o transtorno. O tratamento começa assim que a medicina fecha o diagnóstico e algumas ações podem trazer bem estar e melhor qualidade de vida durante este processo, como atenção na alimentação. Assim, a nutrição funcional pode auxiliar esses pacientes, trazendo uma dieta personalizada.
“A nutrição funcional é uma ciência e está à disposição para atender cada um, de acordo com o seu metabolismo, pois para a nutrição funcional cada ser é único. Ela não considera somente a relação do alimento com a pessoa, mas percorre caminhos mais profundos, como a questão fisiológica, bioquímica e cognitiva”, explica a coordenadora e professora do núcleo de pós-graduação em nutrição da Faculdade IDE, Joyce Moraes. Segundo a nutricionista, ter um suporte nutricional é de grande importância para todos ainda na infância, não apenas para quem tem este tipo de transtorno. A nutrição tem interface com todas as doenças, independente de qual seja.
“A nutrição pode estar na causa, tratamento e prevenção de toda e qualquer doença. A criança está em crescimento e desenvolvimento, além de ter uma patologia, por isso qualquer criança, diante de qualquer patologia ou não, tem que ter um suporte de nutrição, já que está em desenvolvimento”, esclarece Joyce. Sobre os casos de TDAH, é fundamental ter um acompanhamento multiprofissional, como do nutricionista, pois o problema pode estar ligado a nutrição. “Para fazer síntese de neurotransmissores a gente precisa de uma alimentação correta. A nutrição funcional considera que, nesses casos, devemos começar pelo intestino, pois ele atua na quebra e absorção de nutrientes”, ressalta a nutricionista.
“Sem nutrientes, como haverá síntese de neurotransmissores ou aporte para órgãos músculos, por exemplo? Por isso, o intestino é importante. Desde a parte de sintetizar um neurotransmissor, até mesmo servir de propósito para algum órgão ou músculo. O segundo passo é o eixo intestino-cérebro, pois a gente sabe que o intestino sintetiza percursores de neurotransmissores, além de também sintetizar neurotransmissores. Por exemplo, o intestino sintetiza percursores de Gaba e serotonina, que são dois neurotransmissores importantes para o TDAH”, diz a coordenadora do núcleo de pós-graduação em nutrição da Faculdade IDE.
Intestino e cérebro, uma conexão importante
“Intestino e cérebro são ligados por um eixo entérico. Então, estudos mostram que há essa relação e vários pacientes com desordens neurológicas e psiquiátricas têm sintomas gastrointestinais. Outros que apresentam doenças funcionais gastrointestinais, têm sintomas neurológicos e∕ou psiquiátricos. Ou seja, quando eu melhoro um, o outro também melhora. Intestino e cérebro estão intimamente ligados, até mesmo porque derivam do mesmo folheto embrionário”, detalha a nutricionista Joyce Moraes, professora de nutrição da Faculdade IDE.
Fato importante também é a questão do intestino e da microbiótica. Se eu não tenho um intestino adequado, não tenho uma microbiota intestinal adequada, que são os micro organismos que povoam desde a boca até o ânus. E eles têm papéis diversos em nosso corpo. Inclusive, já tem estudos que mostram que eles podem melhorar a perda de peso, imunidade, ansiedade e depressão. “Alguns trabalhos ligam crianças com déficit de atenção à microbiótica alterada, que é um quadro chamado disbiose, por isso essa questão do intestino. Se eu não tenho o intestino íntegro, posso ter quadro chamado hipermeabilidade intestinal. E nesse quadro, posso produzir citocinas pró-inflamatórias, substâncias que conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e ter um impacto negativo no sistema nervoso”, esclarece a coordenadora do núcleo de pós-graduação em nutrição da Faculdade IDE.
Cuidados na alimentação do paciente com TDAH
Joyce deixa claro que não se está querendo promover a cura dos casos de TDAH com estes cuidados na alimentação, mas sim otimizar. Ela explica também que algumas coisas já devem ser evitadas em todos os quadros. “Sabemos que alguns alimentos, independente da criança ter TDAH ou não, vão causar hiperatividade e um exemplo disso é o açúcar. Todo mundo acha que aquela gritaria e ‘pulação’ em festa infantil regada a doce e refrigerante é só alegria, mas não é só alegria, é hiperatividade. Já existem trabalhos mostrando o consumo de muito corante e conservante deixa a pessoa hiperativa. Falo de criança de uma forma geral, não somente com transtornos. Com uma alimentação adequada, é possível ter todos os nutrientes necessários para uma síntese adequada de tudo, proporcionando o bem estar da criança”, diz a professora de nutrição da Faculdade IDE.
Para o açúcar é necessário equilíbrio, já outros alimentos é preciso evitar totalmente. “Evitar açúcar ou reduzir a quantidade, eliminar corantes e conservantes, priorizar alimentos que melhora a macrobiótica intestinal, evitar industrializados e gorduras trans (que está nos salgadinhos, biscoitos recheados, algumas barras de cereal, fastfood e coisas prontas). É preciso priorizar os alimentos orgânicos, livres de mercúrio, ter cuidado com o plástico ao condicionar alimentos, sempre preferindo as ‘comidas de verdade’, que são as frutas, verduras, castanhas e os alimentos naturais em geral”, explica a nutricionista Joyce Moraes.
“Tomar cuidado com alimentos que contém glúten, como centeio, cevada, trigo e também com a aveia, pois apesar de não conter glúten ela é estocada junto com a farinha de trigo aqui no Brasil e acaba tendo uma contaminação cruzada. Tem também a questão do leite e seus derivados, mas aqui eu não me refiro a lactose e sim de proteínas do leite de vaca, como a caseína e lactoglobulina, pois eles têm efeito deletério, que é capaz de prejudicar a saúde. O glúten e a caseína são substâncias que conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e o consumo com frequência diminui o raciocínio e a cognição. Há também estudos que relacionam o glúten com o Alzheimer”, orienta Joyce.
Tudo isso envolve a digestão e ela é muito importante. “Se eu não tenho uma digestão correta, não vou conseguir quebrar o alimento de forma correta e também não vou conseguir nutrientes para fazer síntese, principalmente de neurotransmissor. Então, esses alimentos não são quebrados de forma correta e ficam ali no intestino e acabam servindo se substrato para minha microbiota com característica maléfica, dando um quadro chamado disbiose, que piora ainda mais o TDAH. Preciso digerir bem os alimentos e quando as alterações gastrointestinais são melhoradas, o quadro de TDAH melhora”, alerta a nutricionista
Alimentação correta ainda na gravidez
Há uma crença de que os casos de TDAH estão relacionados com a alimentação da mãe ainda na gravidez, mas a nutricionista conta que nem todo problema de cognição do filho é culpa da mãe, mas é preciso tomar alguns cuidados para evitar qualquer quadro. “Algumas coisas podem influenciar na criança. Um exemplo são as coisas que passam pela placenta, como o metal pesado. Não consumir cafeína em excesso (e aqui eu me refiro aquela presente no chocolate, energéticos e refrigerantes), não ingerir bebida alcoólica e priorizar o consumo adequado de alguns nutrientes, como magnésio e selênio, e consumir ômega 3. Tudo isso vai entrar na teoria de programação metabólica, ou seja, vou ter menos chance de ter um filho com estes transtornos”, finaliza a coordenadora do núcleo de pós-graduação em nutrição da Faculdade IDE, Joyce Moraes.
FACULDADE IDE – A Faculdade IDE, mantida pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional, desde 2006, promove pós-graduações na área de saúde, contando com mais de 120 cursos nas áreas de medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, educação física, psicologia e fonoaudiologia. Autorizada pelo MEC, na portaria nº 852, de 30/12/18, passou a oferecer também graduações, como de Estética e Recursos Humanos. Com matriz no Recife e atuação no interior de Pernambuco, como Caruaru, Garanhuns e Petrolina, tem unidades também espalhadas por vários estados do Norte e Nordeste, como Ceará, Bahia, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Belém. Mais informações (81) 3465.0002, 0800 081 3256 e https://www.faculdadeide.edu.br/.