Prestes a lançar seu EP de estreia, o cantor e compositor Bruno Albert faz de sua música um mergulho profundo nas questões raciais no Brasil com “Pre-Tu”. O single duplo digital, que acaba de lançar pelo selo Diáspora, está disponível em todas as plataformas de música.
Ouça “Pre-Tu”: http://smarturl.it/Pre-Tu
Natural de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, Bruno Albert começou a compor muito jovem e sempre viu na música um meio de experimentação e produção artística para expressar seus questionamentos e afetos. Após imersão no campo expandido da arte contemporânea, ele faz um mergulho interno em suas músicas.
“‘Pre-Tu’ surgiu de uma maneira bem arrebatadora. O chamado do início da música evoca várias questões, sobretudo a complexidade da presença, origens e transformações destas matrizes africanas no Brasil. Eu também tenho estas questões, pois me encontro em processo de desenvolvimento individual tanto quanto às origens quanto ao que me difere destas, este diálogo é o que vejo como interessante nisso tudo. Preto não é só a origem, mas sim o que já nos tornamos hoje com nossas próprias identidades”, explica ele.
O EP já tinha sido antecipado por “Razão”, faixa que dialoga com a b-side do single duplo. “‘Ódio’ surgiu como harmonia em diálogo com ‘Razão’. É uma canção que toca o tema de manipulação social sem deixar de lado a beleza da inevitabilidade dos processos humanos. Aprendemos a respeitar o medo, a força e a agir de forma reativa, logo seria inevitável isso ser utilizado como estratégia em algum momento”, conclui.
A produção musical e as linhas de baixo são de Hugo Noguchi, conhecido por projetos como Ventre, SLVDR e Posada e o Clã. A arte de capa é uma das fotografias da série Ìyá (que significa mãe em Yorùbá), feita pelo coletivo Pangeia (Pedro Gomes, Silvia Medeiros, Fabiana Pernambuco). Embora não tenha sido concebida para ser a capa do single, a imagem retrata parte de sua letra, incorporando o sincretismo brasileiro e a transformação da tradição em um discurso atual e pungente.
O single é uma aposta do novo selo Diáspora, projeto iniciado por Noguchi que pretende dar visibilidade para que artistas racializados se insiram de modo profissional no mercado musical, buscando descendentes das diásporas africana e asiática, bem como das internas brasileiras. “Pre-Tu” está disponível em todas as plataformas de streaming musical.
Ficha Técnica:
Letras: Bruno Albert
Arranjo: Bruno Albert
Composição: Bruno Albert
Violões e Vozes: Bruno Albert
Engenharia de som e mixagem: Bruno Albert
Masterização: Hugo Noguchi
Letras
Pre-tu
Você não sabe o que é preto
Você não sabe o que é preto
Você só sabe o que é preto
Você só sabe o que é preto
Você só sabe o que é preto
Você não sabe o que é preto
De onde venho você sabe?
Nem eu
Minhas origens nosso povo
Perdeu
Todo este tempo a vontade
De me encontrar aqui
Eu não sou o mesmo de onde vim
Meu peito é forte feito aço
Sqn
Minha marca é virilidade
Sqn
O que não contam na escola
Eu sou
Pedras por onde caminhar
Eu coloquei
Muitos não querem ver passar
Eu sei mas vou
Meu canto vai do samba ao soul
Não é a imagem
Nem religião
Não é malandragem
Nem só curtição
Não é o bandido
Nem é o filé
Não é só folclore
Nem peito do pé
Meus avós colhendo cana sob traquitanas
No vale dos ímpios
Sob a mira dos bichos escrotos
Vermes, gafanhotos, euro-sem-princípios
Hoje eu quero boulevard, jóia pra levar
Beijo, au revoir
Ostentando afeto e bons motivos pra brindar
Autoestima pra brilhar, bola oito do bilhar
Pérola negra reluzente somo Áfricas, somos África
Luzes vermelhas e azuis tentando nos parar
Tentam comparar
Miles Davis somos Angela
Ao sul da América
Do Samba Duro à Black Uhuru
Baobá
Branco na sexta, paz de Oxalá
Cristo Yorùbá
Tambores pra elevar
Meu silêncio é para espiritualizar
Nunca me calar
Não vão me calar
Nunca me calar
Não vou me calar
Não é a imagem na televisão
Não é malandragem
Nem só curtição
Não é o bandido
Nem é o filé
Não é só folclore
Nem peito do pé
É preto
Ódio
Você segue teu medo
Você segue teu medo
Seca o peito
Segue mesmo cego
Você segue teu ódio
Você segue teu ódio
Fere o peito
Segue mesmo cego
Você segue teu ódio cego
Medo segue
Mesmo cego
A mesma dor que mata
É a dor que sente e quer viver
A mesma cor que escorre
Corre sempre dentro de você
Não tema mais teu medo
Não ouça só teu ódio
Não cale mais o teu amar
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