Mostra coletiva com curadoria de Walter Arcela reúne trabalhos de 13 artistas

Nesta quinta-feira (20), a Galeria Amparo 60 dá início a sua programação de exposições de 2025 com a coletiva Tocar o céu com as mãos. Com curadoria de Walter Arcela, a mostra traz obras de 13 artistas de diferentes gerações e origens geográficas, ímpares em suas abordagens técnicas e temáticas. 

Ana Neves, Anti Ribeiro, Alice Vinagre, Diogum, Luiz Hermano e Marlan Cotrim fazem parte do casting da galeria e têm suas obras colocadas em diálogo com as de  Charcha Barja, Chico da Silva Pirambu, Eduardo Coimbra, Liliane Dardot, Luiz Barroso, Rafael Chavez, Ramonn Vieitez —  artistas convidados.

A galerista Lúcia Costa Santos destaca que, desde o início de 2024, Arcela tinha proposto desenvolver uma exposição que tratasse do telúrico, do onírico, do sonho, dessa dimensão celestial, lançando um olhar sobre artistas do casting nos quais ele via e sentia a presença desses temas. “Walter já vem trabalhando com a gente há algum tempo e assim que ele trouxe a ideia validamos e ele iniciou os trabalhos”, diz.

O título da mostra e toda sua conceituação faz parte de uma bibliografia de pensadores indígenas, como Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Em A Queda do Céu, Kopenawa fala que o fim do mundo vai se dar através da queda do céu, o que tornaria aquele lugar distante mais próximo, palpável. Seria possível tocá-lo com as mãos, ele faria parte da vida cotidiana. “O céu tem toda essa metáfora enquanto uma alegoria do impossível, o sonho inalcançado, e na medida que a gente pensa numa queda literal do céu, a gente cria uma tangibilização do mundo intangível. Essa exposição traz um pouco essa possibilidade de viver concretamente o sonho, de viver concretamente a abstração da matéria”, contextualiza o curador.

A mostra se divide em dois blocos. Abismos Oníricos, o primeiro, reúne o conjunto de obras focadas na representação do intangível, na tematização onírica e na ilusão enquanto realidade. Ramonn Vieitez, Chico da Silva Pirambu e Luiz Hermano propõem, em seus trabalhos, seres flutuantes, alados ou em plena queda, em meio a paisagens surreais. “Eduardo Coimbra vaza o céu por entre estruturas geometricamente demarcadas. Ana Neves prospecta a palavra Sonho, acompanhada de um peixe, e o que é para este animal o mar, senão um céu? Já Anti Ribeiro elabora fulminações em plástico, preenchida por ar, e condensa matérias em torno do fogo, da eletricidade e do trovão, fenômenos que acontecem em pleno céu. Alice Vinagre, na série Anotações sobre o céu captura a delicadeza e o transitório celestial”, escreve Arcela. 

Abismo Telúrico aposta no lirismo de uma terra grávida de céus, na conexão do cosmo com o chão. Nesse segundo bloco, estão as obras de Diogum, que usa o ferro para traçar um elo entre o real e o sagrado; de Liliane Dardot, com sua pesquisa visualidade campestres do cerrado brasileiro; de Rafael Chavez, onde ecoa a aridez e o mistério da paisagem sertaneja; de Cacha Baja, que esculpe formas gonodais e orgânicas aludindo a um corpo em estado de gênese e transmutação; de Marlan Cotrim, que, em suas pinturas, propõe “cartografias errantes, e tremulares, as linhas, e as formas criam um horizonte multi-paisagem, onde não se distinguem céus, terras, mares, trata-se de visão circular”.

Um dos destaques, segundo o curador, seria a série sobre a Pedra do Ingá, do artista paraibano Luiz Barroso. Produzida na virada dos anos 1980 para 1990, passou 15 anos fora do Brasil e agora será exposta pela primeira vez no país, na coletiva Tocar o céu com as mãos. A Pedra do Ingá é um sítio arqueológico milenar, localizado no brejo paraibano, rondado por mistérios e enigmas — a população nativa acredita que as pinturas rupestres seriam formas de comunicação com os extraterrestres. 

Os trabalhos expostos trazem uma grande variedade de suportes (pinturas, esculturas, objetos híbridos) e também se encontram e dialogam de maneiras distintas, não literais. “Dentro dessa exposição, eu percebo que existem vários eixos, várias tensões narrativas. Cada artista é uma constelação em si e traz um universo diferente e a  partir das possibilidades de junções, você vai formando outras composições, você vai formando outras narrativas dentro de uma narrativa geral. Eu  tenho esse cuidado de não ser muito literal na abordagem do tema,  deixando espaço para uma entropia natural”, resume o curador.

SERVIÇO

Tocar o Céu com as mãos

20 de fevereiro, a partir das 20h

Visitação: De 21 de fevereiro a 18 de abril de 2025.

Segunda a sexta, das 10h às 19h

Sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio

Galeria Amparo 60 – No 3º  andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 – Boa Viagem, Recife – PE, 51020-170)

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