As pinturas do francês Eugène Lassailly decoravam a antiga sala de jantar do solar
Uma equipe de restauradores está empenhada em resgatar pinturas murais do pintor francês Eugène Lassailly, que ocupam as paredes da atual Sala dos Acadêmicos, no casarão do século 19 que sedia a Academia Pernambucana de Letras (APL), no bairro das Graças, no Recife.
As pinturas, que retratam paisagens e naturezas mortas, foram realizadas diretamente na parede, na antiga sala de jantar do solar, sob encomenda do comerciante português João José Rodrigues Mendes, que adquiriu o imóvel em 1863. As pinturas teriam sido feitas até o ano de 1870 e fazem referência a cenas comuns ao modo de vida europeu da época, exibindo cenários de caça e pesca, atividade por meio da qual o barão construiu sua fortuna com a importação do bacalhau.
Várias áreas das pinturas originais estavam cobertas por tintas de paredes e encontravam-se em estado ruim de conservação, apresentando problemas como abrasão, alteração cromática, craquelês, descolamento da camada pictórica, desgaste, excrementos de insetos e insetos aderidos, manchas e rachaduras.
“Houve uma intervenção na década de 1970, mas infiltrações provocaram a degradação das pinturas. As paredes que não sofreram tanto com infiltrações nos deram a referência para restaurar todas as pinturas da sala, como elas eram originalmente”, explica a restauradora e fiscal do projeto, Suzana Omena.
O projeto de restauro, uma realização da APL com a coordenação da produtora Arkhé Cultural e incentivo do Funcultura, contou com estudos e testes para que fossem determinadas quais técnicas seriam utilizadas no serviço de remoção e decapagem das intervenções que encobriram as pinturas originais e como seria realizado o restauro.
“É um trabalho minucioso, praticamente um processo cirúrgico. Você tem que remover camada por camada das tintas colocadas por cima das pinturas, mas preservar o que está por trás, que nem sempre a gente sabe como está. Estamos no processo de reintegrar as partes faltantes dessas pinturas”, conta o coordenador da equipe de restauro, Walas Fidélis. Trabalham com ele no projeto ainda as restauradoras Rildete Nascimento, Rosa Bispo e Weydes Santos. O projeto contou com a consultoria técnica da restauradora Pérside Omena.
As pinturas murais que decoravam a sala de jantar mostram como figuras abastadas da sociedade no século 19 se relacionavam com a arte, inclusive dentro de suas próprias casas. “Pelas cores originais das pinturas, a sala deve ficar mais escura do que é atualmente. Mas é como era na época, um resgate da arte e da própria história do edifício, preservando o nosso patrimônio e a nossa cultura”, complementa Suzana Omena.
A primeira etapa do projeto de restauração deve ser finalizada até o fim do mês de janeiro, quando a sala deve ser reaberta à visitação pública.