Em maio, dois irmãos, que estudavam em escolas diferentes, foram vítimas de racismo, em Niterói, cidade da Região Metropolitana do Rio que viu crescer quatro vezes o número de injúrias raciais em relação ao ano passado. No mês passado, foi a vez de uma estudante negra de São Paulo sofrer ataques durante um torneio esportivo. Casos como esses têm se multiplicado e, às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o historiador Saulo Pereira, consultor pedagógico do LIV, programa de educação socioemocional presente em mais de 700 escolas do Brasil, defende que, para evitar que o problema continue, as escolas invistam cada vez mais na educação antirracista.

Na prática, a educação antirracista pode contar com diversas iniciativas. Saulo listou algumas atitudes que as escolas podem tomar para ajudar a formar crianças e adolescentes que entendam as diferenças e as valorizem. Confira algumas sugestões do especialista:

1)   Valorizar a diversidade

O racismo, lembra Saulo, faz parte da sociedade e é reproduzido no ambiente escolar. Para evitar isso, ele recomenda que os colégios tomem algumas atitudes práticas, como apresentar aos alunos a diversidade existente no mundo e no Brasil. A história africana e dos povos originários deve ser não só contada, como já determinam as leis 10.639, de 2003 e 11.645, de 2008, mas também valorizada.

Rever as escolhas curriculares, onde, na maioria das vezes, são apresentados heróis brancos, em detrimento dos negros, é também fundamental.  Essa prática pode ajudar na valorização da herança africana no Brasil, tema tão urgente que pautou a redação do Enem esse ano.

Além disso, ao conhecer e ver a valorização de seus ancestrais, alunos negros também conseguem se sentir incluídos e representados.

“Para as crianças negras, o racismo produz uma dificuldade de conseguir estabelecer uma autoestima, de se enxergar como objeto de desejo, uma pessoa, e isso traz questões muito grandes”.

2)        Não há idade certa para aprender

A educação antirracista pode começar já no início da vida escolar, diz o especialista do LIV, desde que a abordagem esteja de acordo com cada faixa etária. Para alunos menores, podem ser usados recursos como contação de história, músicas, brincadeiras e referências artísticas em geral da cultura negra e dos povos originários, mostrando a importância delas para a formação do que conhecemos como Brasil.

3)   Oferecer espaços de fala e escuta

A escola é um microcosmo da sociedade. Nas escolas, o racismo pode vir de atitudes que os alunos ouviram ou viram dentro de casa. Crianças e adolescentes podem reproduzir o que adultos de sua confiança falam. Por isso, é importante que as escolas tenham espaços de fala e de escuta para discutir esse tema e outros como bullying. A educação socioemocional, que estimula o desenvolvimento de habilidades como empatia, capacidade crítica e comunicação, pode ser uma aliada. Quando um estudante entende como o outro, que é atacado, se sente, podem mudar o próprio comportamento.

4)   Criação de grupos de trabalho.

Para discutir temas sensíveis à educação, Saulo sugere que as escolas criem grupos de trabalho. “É importante ter grupos de trabalho que discutam temas que são importantes, mas ao mesmo tempo são sensíveis dentro da educação, como a educação antirracista e a diversidade. E não precisa ser um grupo só, envolvendo todas as esferas da comunidade escolar. Ele pode ser dividido entre os pais, professores, alunos, que vão se sentir representados”, afirma.

5)   Olhar para dentro da própria escola

Falar para os alunos sobre a herança dos nossos antepassados é fácil, mas é preciso que as escolas olhem para si mesmas também. Será que elas praticam o que falam? Quantas pessoas negras e indígenas elas empregam? E quais cargos elas ocupam? Esse movimento inclui revisar ponto a ponto da escola, dos documentos até a materialidade cotidiana, para garantir que tudo caminhe sob a ótica antirracista. “Isso é fundamental para que consigamos construir uma sociedade com isonomia e mais igualitária”, finaliza Saulo.

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