Vitinho entrou no esporte por incentivo dos pais, que tinham o sonho de vê-lo nas piscinas. O atleta nasceu com má formação em uma daspernas e hoje precisa usar prótese.
Uma vida dedicada à natação, praticamente desde o nascimento. É assim que se pode resumir a trajetória de Victor dos Santos Almeida, conhecido como Vitinho, 16 anos, o atleta brasileiro mais jovem da delegação que representa o país nos Jogos Paralímpicos de Paris, que começam no próximo dia 28 de agosto. A participação precoce na competição repete o início de sua carreira: ainda aos três meses, o paratleta já frequentava as piscinas.
Vitinho nasceu com má formação no fêmur direito, e, por isso, tem essa perna na altura do joelho esquerdo. Antes de completar um ano de vida, ele foi levado aos médicos para realizar exames e iniciou o uso de próteses. Com todo o processo de adaptação encaminhado, o pai dele decidiu colocar em prática um sonho: matricular o filho na natação. “Esse foi um processo natural: mesmo com a questão da deficiência, ainda bebê eu já estava nas piscinas”, diz.
A primeira competição que Vitinho participou foi interna: aos cinco anos ele entrou em disputa com outros atletas mirins nas provas de uma academia na qual os pais o matricularam. Naquela ocasião, mesmo criança, foi naquele momento que percebeu que gostava do esporte aquático. Aos oito anos ele já começou a fazer testes para entrar em clubes e projetos de iniciação na natação. Com o tempo, foi visto como um atleta com potencial para integrar a seleção.
Foi o que aconteceu entre os anos de 2018 e 2021, quando ele integrou a base da seleção brasileira de natação paralímpica. Agora ele está pronto pararepresentar, pela primeira vez, o Brasil nas Paralimpíadas. Ele vai disputar as provas na classe S9. “Agora tenho a oportunidade de competir contra os melhores do mundo”, diz. Mesmo antes da participação nos Jogos de Paris, Vitinho já fez bonito na França, onde foi disputada uma das etapas do World Swimming Series, em junho deste ano. Na ocasião, o atleta conquistou um ouro e duas pratas.
Nas semanas que antecederam os jogos, o jovem nadador focou nos treinos, de segunda a sábado, alternados entre atividades na piscina, academia, funcional e regenerativo. Em alguns dias, os treinamentos foram em dobro, ou seja, pela manhã e tarde. “É véspera de competição. Então o foco é total na preparação. Só descanso no domingo”, comenta.
Mobilidade garantida desde criança
Ainda que a notícia sobre a má formação no fêmur tenha sido difícil para a família, desde cedo os pais do atleta buscaram a melhor forma de garantir sua autonomia para todas as atividades, seja nos treinos para as competições ou fora da piscina. “Fui levado a vários médicos, até que um deles me indicou a protetização ainda bebê. Tenho minha primeira prótese guardada até hoje. É muito fofa”, conta Vitinho.
Assim como o primeiro equipamento veio cedo, também vieram as primeiras sessões de acompanhamento e fisioterapia. Atualmente, ele conta com uma prótese provisória desenvolvida pela empresa alemã Ottobock. Para a sua condição, ele precisa de um pé e um joelho mecânicos adaptados para serem encaixados em sua perna com má formação. Além disso, a empresa desenvolve uma prótese definitiva à prova d’água para o atleta. O novo equipamento é desenvolvido para que o atleta tenha mais segurança no uso, especialmente em seus treinos, conforme explica Thomas Pfleghar, diretor de academy da Ottobock na América Latina. “Ainda que ele não utilize a prótese nas provas, por ser um atleta da natação o mais recomendável é a tecnologia à prova d’água para não ter preocupação nos bastidores”, afirma.
O desenvolvimento de uma prótese demanda tempo de pesquisa, análise das condições do atleta, fabricação, ajustes e adaptação do utilizador à nova realidade. Esses equipamentos, segundo o diretor da empresa, são feitos com base em análises laboratoriais a partir de pessoas não amputadas, paraque as próteses criadas cheguem mais perto do que é um membro humano.
Cada atleta, segundo Pfleghar, tem demandas diferentes, que determinam mais ou menos funções em suas próteses. “Por isso, é importante que um joelho protético forneça segurança quando o usuário se apoia sobre a prótese ou em movimento controlado (quando ocorre flexão e extensão, por exemplo)”, afirma. Após ser entregue a prótese, o atleta recebe treinamento para que saiba usá-la corretamente, e é feito um acompanhamento regular para fazer quaisquer ajustes necessários, explica o diretor.
Como mais uma garantia de mobilidade e bem-estar, Vitinho diz que cuida da prótese como se fosse sua filha. “Não vou deixar jogada, vou ficar bem atento a ela, porque dependo dela para me locomover, de ir e voltar dos meus treinos. A questão do contato do equipamento com a água já não é uma grande preocupação, mas não impede de eu estar sempre com o maior cuidado com ela”, explica.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.