Após dois meses de residência artística no Vale do Catimbau, localizado entre o agreste e sertão de Pernambuco, o coletivo pernambucano de artes visuais “Gráfica Lenta” apresenta ao público do Recife um conjunto de obras inspiradas no patrimônio material e imaterial da região. Nada menos que quarenta artistas participaram deste projeto fomentado pelo programa Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais. Boa parte deles passando 15 dias imersos na comunidade e contribuindo para a ampliação do acervo iconográfico, deste que é o segundo maior parque arqueológico do País, através da produção de gravuras criadas em matrizes de linóleo.

Com o título Narrativas neolíticas, serão apresentadas, no próximo sábado (6/07), a partir das 19h, na Galeria Maumau, na Rua Nicarágua, 173, Espinheiro, 150 obras resultantes da vivência da Gráfica Lenta no Sítio Alcobaça, que fica no Catimbau, apresentando a possibilidade de imersão no universo local. Muitas delas retratam a flora da região, a fauna, as paisagens, o patrimônio arqueológico, as histórias e o cotidiano dos moradores das comunidades rurais do local. Antes do Recife, as obras foram expostas  em cinco comunidades do vale, inclusive no território indígena Kapinawá.     

Na noite de abertura na Galeria Maumau, onde fica a sede da Gráfica Lenta, os visitantes terão a oportunidade de conhecer os artistas (inclusive os que vivem no Catimbau), e as suas obras. A noite conta ainda com as DJs Isabela Stampanoni e Maria Duda, que irão embalar o evento com suas seleções musicais. Além disso, o público poderá desfrutar de comidinhas da Dhuzatti e degustar chopp artesanal da Risoflora e drinques da Barcicleta, tornando a noite ainda mais animada e acolhedora. 

O projeto Gráfica Lenta no Catimbau prevê a doação de parte do conjunto de gravuras produzidas para o Museu e Casa da Cultura Popular de Buíque, ampliando o acervo iconográfico já existente na instituição sobre o Vale do Catimbau. E para democratizar o acesso do público em geral e de pessoas com deficiência visual aos resultados do projeto, um arquivo digital será disponibilizado em breve na página do Instagram do projeto (@graficalentacatimbau, com textos, depoimentos dos participantes e moradores da região, além de fotografias das gravuras produzidas, todas audiodescritas.

“A Gráfica lenta está comemorando dez anos de atividades e não podíamos comemorar de uma maneira melhor. Foram semanas de muita  imaginação e criatividade para os nossos artistas e de também de ensino e aprendizagem para a população local”, conta Maurício Castro, um dos fundadores do coletivo. 

Essa interação com a  comunidade também é destacada pela  produtora executiva do projeto, Clarice Hoffmann. “Acho que conseguimos estabelecer uma relação de mútuo saber e plantamos juntos  uma semente para o surgimento de um coletivo de gravuristas na região do Vale do Catimbau. O local não poderia ser mais inspirador”. Distante 290 km do Recife, os imensos paredões de rocha do Catimbau apresentam formas singulares e a história e misticismo se fazem presentes nos seus diversos sítios arqueológicos, grutas, cemitérios pré-históricos e pinturas rupestres com mais de seis mil anos.

Serviço: 

Narrativas Neolíticas – Gráfica Lenta no Catimbau  

Data: Sábado, 6 de Julho

Horário: A partir das 19h

Local: Galeria Maumau, Rua Nicarágua, 173, Espinheiro, Recife

Entrada Franca

Sobre o Parque Nacional do Catimbau:

O Vale do Catimbau é uma área prioritária de preservação do meio ambiente, regionalmente e nacionalmente conhecido por sua riqueza patrimonial. Em 2002, foi criado o Parque Nacional do Catimbau – a segunda maior unidade de conservação da natureza em Pernambuco, atrás apenas de Fernando de Noronha, e uma das últimas reservas do bioma Caatinga.

Sobre a Gráfica Lenta

Nos últimos dez anos, coletivos de gravura pipocaram em diversas cidades do Brasil – Belém, Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo, Crato, Salvador, entre outras localidades. Renovando, inovando e expandindo a produção da gravura contemporânea em diferentes técnicas, esses coletivos de gravadores constituíram espaços visando a troca de conhecimento e de experiências artísticas em torno das possibilidades poéticas da gravura.

No Recife, esta movimentação ocorrida no campo das artes visuais brasileira, se manifestou por meio da Gráfica Lenta. Adotando como lema “A prensa é inimiga da perfeição”, em 2013, o artista plástico Maurício Castro propôs a criação de um espaço coletivo para a produção da gravura, fundamentado em um posicionamento político e social, que prezasse por uma desaceleração: um respeito ao tempo, mais lento, mais humano. Ocupando, inicialmente, um pequeno espaço da varanda do espaço cultural e Galeria Maumau, artistas começaram a se reunir em torno de uma prensa e a produzir linoleogravuras.

No ano seguinte, a partir do desenvolvimento de um projeto incentivado por um edital público, a Gráfica Lenta ganhou fôlego e foi ampliada. A proposta aprovada consistia na realização de uma exposição coletiva de gravuras, concebida a partir de uma vivência impulsionada pela expertise do próprio Maurício Castro e do artista Maurício Silva na linguagem/técnica da gravura adquirida por ambos na lendária Oficina Guaianases de Gravura. Para participar do projeto foram convidados oito artistas de diferentes gerações. No entanto, de forma surpreendente outros dezessete artistas se envolveram espontaneamente no cotidiano da vivência e como consequência a Gráfica Lenta se consolidou como um importante espaço para a reflexão/operação da experimentação com a gravura. Nas comemorações pelos dez anos de atividades, o coletivo lançou o ebook – www.graficalentaebook.art.br  – com parte de sua profícua produção.