O que você faria se tivesse a oportunidade de, a partir de suas iniciativas, mudar a vida de alguém? E se fosse de uma comunidade? Ou melhor: de 1 milhão de pessoas? Raphael Gadelha, aos 33 anos, não tem nenhuma dúvida do que quer fazer até o fim da sua vida: transformar a vida de crianças e adolescentes através da tecnologia. E deixa claro que isso não diz respeito a simplesmente oferecer ferramentas tecnológicas para uso no dia a dia, mas garantir que, desde as idades mais novas, as pessoas possam conquistar a sua ‘independência tecnológica’, entendendo como se constrói e usa tecnologia e desenvolvendo seus próprios projetos para uma nova vida e para a carreira.
Foi assim na própria vida dele. Estudante de escola pública e nascido no Recife, Raphael cresceu na cidade de Igarassu, na Região Metropolitana. Através da educação formou-se no curso de eletrônica e gestão de tecnologia, e daí em diante nunca mais parou de usar a tecnologia em prol da sociedade. Observando seu próprio entorno, percebeu ser preciso unir essas duas necessidades (educação e tecnologia) para mudar o presente e o futuro da população também.
“Eu vivi o poder transformador da educação e, mais à frente, da tecnologia, para mudar o futuro da minha vida, abrindo portas e me fazendo acessar novas oportunidades. Hoje, à frente de uma empresa de tecnologia e também de educação, busco reverberar essa oportunidade para o máximo de pessoas que eu puder, e o mais cedo possível, com a meta de fazer com que a tecnologia seja parte integrada da formação educacional e social de qualquer ser humano”, diz Gadelha.
O caminho encontrado por ele, desde 2013, é a Dulino, empresa criada para oferecer tecnologia como aliada no processo de ‘aprender fazendo’, entendendo que a prática das atividades, auxiliada por ferramentas tecnológicas, é o melhor caminho para um desenvolvimento educacional pleno e multidisciplinar onde todas as disciplinas podem ser trabalhadas através desse formato.
“Até hoje é um desejo pessoal que busco realizar a partir da Dulino. Eu implemento, a partir da empresa, uma solução para uma dor que é minha, que eu vivi por não ter a tecnologia presente na minha vida desde cedo. Meu objetivo é buscar uma nova forma de ensinar, a releitura da escola”, reforça.
CASE COM PROPÓSITO TRANSFORMADOR
Foi com auxílio da Dulino, por exemplo, que estudantes do ensino fundamental da Escola Municipal João Bento de Paiva desenvolveram, ainda em 2017, um ‘drone pega-ladrão’, protótipo de kits lego que utiliza sensores, motores e câmeras para chegar a lugares de difícil acesso da cidade. Outra ferramenta desenvolvida foi um protótipo de balanço para cadeirantes, feito pelos próprios estudantes.
“O Brasil precisa voltar a incentivar a ciência. A tecnologia precisa ser uma ‘cultura’ adotada na educação básica. Se nós fomentarmos a formação tecnológica na educação básica, teremos uma geração de alunos incentivados a gostarem e criarem soluções tecnológicas. E isso nos dará um futuro de nação não apenas consumidora de tecnologia, mas provedora de tecnologia. Potências mundiais, como China, EUA e Índia têm investido massivamente nessa formação. A falta dessa mão de obra brasileira é hoje uma dor latente no país”, assegura Gadelha.
A nova revolução trazida pelo avanço da Inteligência Artificial (IA) irá demandar de todos ainda mais habilidades no uso de ferramentas tecnológicas para interação e desenvolvimento de projetos a partir do uso da inteligência artificial, que já está presente no cotidiano. A Dulino já adota, por exemplo, a Lili, um chatbot todo baseado em IA que traz dinamismo e facilidade para comunicação.
Através da Dulino, atualmente 45 mil pessoas são impactadas diretamente com formações tecnológicas incorporadas à educação formal. Mas a meta é ainda mais ambiciosa: até 2030, a expectativa é que a Dulino esteja presente na vida de 1 milhão em todo o país, tendo acesso a uma metodologia de ensino que apresenta a tecnologia como aliada no processo formativo. Para chegar até o número final, Raphael pretende realizar uma série de ações que ele já chama de Rota do Milhão, e que inclui gravação de podcasts em auditórios de várias cidades do Brasil ou a proposta de um reality show com professores de várias partes do Brasil. Nesta rota, a Dulino também já possui um laboratório móvel de educação tecnológica. Um ônibus devidamente equipado estaciona em praças de vários municípios, num convite para que os jovens desbravem esse universo. Os projetos de Raphael e da equipe já passaram por Pernambuco, Bahia e São Paulo. A meta é fechar mais estados ainda neste primeiro semestre.
INCLUSÃO E DESENVOLVIMENTO
Através da Dulino, Raphael garante que escolas muitas vezes carentes até mesmo do básico consigam ter acesso a equipamentos tecnológicos e garantam uma formação completa aos estudantes. A empresa facilita o processo para que os estudantes manuseiem ferramentas e se desafiem no planejamento e montagem de projetos, tenham acesso a ensinamentos sobre programação e desenvolvimento tecnológico. As famílias desses jovens não precisam pagar por isso, uma vez que a parceria acontece com os municípios e outras instituições que queiram ser parceiras da ideia da Dulino.
“Os alunos dão “vida” aos protótipos tecnológicos e veem seus projetos nascendo em movimento, botando a mão na massa e entendendo como tudo é feito. Não é simplesmente chegar lá e mostrar como se faz, é unir as mãos e fazer junto, deixando como legado o conhecimento que, mais à frente, poderá ser usado em sua carreira profissional ou até mesmo no dia a dia”, conta Raphael.
Quando essas atividades não acontecem nas escolas parceiras, elas funcionam em laboratórios equipados para que os alunos construam ideias a partir das aulas. Nessa profusão de habilidades, os estudantes são estimulados e criam soluções incríveis que reverberam e impactam a sociedade.
FORMAÇÃO HUMANA
O desenvolvimento dos estudantes com auxílio da tecnologia ultrapassa a educação formal. A Dulino prioriza o desenvolvimento humano dos alunos, garantindo a formação para além da sala de aula.
“Temos nosso trabalho baseado em cinco pilares que norteiam as práticas formativas com uso intenso de tecnologia. A criatividade, iniciativa, empatia, estabilidade emocional e capacidade de aprender a aprender são diferenciais trabalhados em todas as etapas de ensino da Dulino”, afirma Raphael.
Os conceitos são aplicados junto à prática educacional, justamente para promover o desenvolvimento de crianças e jovens com consciência sobre o uso da tecnologia e as prioridades em relação à sua aplicabilidade no dia a dia.
TECNOLOGIA PARA ALÉM DA EDUCAÇÃO
Não só para a educação que Raphael enxerga a tecnologia como uma potente aliada. Em toda a sua vida, o uso de novas tecnologias e os limites da aplicação nas diversas atividades do dia a dia sempre estiveram em voga. Sua formação cristã sempre o levou a ponderar os limites das soluções tecnológicas desenvolvidas no mundo, mas sempre prevalecendo o impacto positivo para a vida das pessoas.
“É preciso saber usar a tecnologia de maneira positiva, e a sociedade precisa ser esclarecida sobre isso. O Brasil é um país cristão e o avanço tecnológico por vezes assusta e desafia alguns dogmas adotados. Eu sou cristão, católico, e inclusive busquei em dado período da minha vida ser sacerdote. Mas isso nunca foi um fator impeditivo para incentivar o desenvolvimento tecnológico e o seu bom uso. Temos discussões muito fortes como a implementação de chips neurais, que tem o seu conceito distorcido para algo que amedronta as pessoas e é passado como uma possível ferramenta de controle. Mas veja que através desses chips, pessoas estão podendo ter a chance de reabilitarem suas funções motoras e recuperarem sua qualidade de vida. Acho que é sobre isso que precisamos discutir: o impacto positivo que a tecnologia traz para nossas vidas, seja sendo unida à educação, à saúde ou qualquer outro segmento”, diz Gadelha.
O uso da tecnologia tem propiciado, por exemplo, a inclusão de alunos neurodivergentes, a exemplo de crianças com transtorno do espectro autista, que conseguem interagir mais e participar de atividades em conjunto através do uso do kit maker da Dulino.
“Todos nós precisamos da tecnologia hoje e, sabendo usar, colheremos o que há de melhor nas soluções para facilitar nossas atividades diárias e ainda poderemos preservar o nosso tempo para usufruir ainda mais das relações humanas”.