Evento toma conta do Recife Antigo, entre os próximos dias 30 de agosto e 1º de setembro, com oficinas, feira de livro, apresentações culturais e muitos debates. Programação promovida pela Prefeitura do Recife é toda gratuita

A métrica, a estética e a poética dos saberes culturais ancestrais nordestinos serão celebradas, entre os próximos dias 30 de agosto e 1º de setembro, durante a 17ª edição do Festival Recifense de Literatura – A Letra e a Voz. Promovido pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, com participação da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer, o Festival levará oficinas, discussões, mesa de glosas, apresentações culturais e feira de livros para a Avenida Rio Branco, numa programação gratuita e aberta ao público, dedicada à salvaguarda da arte de tradição oral e popular do Nordeste.

“Nas Veredas da Poesia Popular” é o tema do Festival, que convida a um percurso literário pelas entranhas da alma e da sensibilidade de um povo, celebrando o poeta popular, declamador e escritor nordestino Chico Pedrosa. Nesta 17ª edição, até a identidade visual do Festival A Letra e a Voz é poesia. Foi criada pelo patrimônio vivo pernambucano J. Borges, que talhou e até coloriu, com exclusividade, a xilogravura que é a marca do Festival. 

A programação foi apresentada hoje (27), à imprensa, pela secretária de Cultura, Leda Alves, pelo presidente da Fundação de Cultura, Diego Rocha, e pelos curadores do Festival, Sennor Ramos e Heloísa Arcoverde, além do homenageado. “Vamos celebrar a poesia, o poeta e o criador. É quando cria que o homem se aproxima de Deus. É a plenitude da gente, a dimensão máxima da existência”, disse a secretária Leda Alves. “Celebraremos a poesia popular em seu lugar de origem, que são as ruas”, complementou Diego Rocha.

A curadoria do Festival fez questão de ressaltar a urgência das tradições culturais de raízes mais profundas. “A poesia popular se confunde com o Nordeste. Sempre habitou nossas paisagens. Neste Festival, iremos celebrá-la em sua plenitude, reunindo grandes nomes dessa tradição e seus vários formatos: a cantoria, o improviso, o cordel e a poesia matuta”, disse Sennor. “A arte é uma resposta a tudo que está aí a nos ameaçar. Precisamos persistir com inteligência e sensibilidade. Ninguém se cala”, convocou Heloísa.

O homenageado declarou e declamou sua alegria. “Foi um brinde que recebi da vida. Nasci para ser o que sou. É disso que eu vivo. Poesia tira-se de onde não tem e bota-se onde não cabe. Quando ela chega, ocupa todos os espaços, toma conta da gente”, disse o poeta Chico Pedrosa.

A programação do Festival começa nesta sexta-feira, a partir das 18h, na Avenida Rio Branco, com fala da secretária Leda Alves e do homenageado, Chico Pedrosa, que conduzirá uma mesa com o tema Um Garimpeiro de Sonhos. 

Depois, a partir das 19h, protagonizam bate papo sobre o conceito da poesia popular o repentista Edmilson Ferreira, o cordelista, xilogravurista e patrimônio vivo pernambucano J. Borges, além de Maria Alice Amorim, pesquisadora e colecionadora de cordel. A mediação será do jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras Cícero Belmar. 

No sábado, teoria e prática se encontram na programação, que começa com mão na massa e aprendizado. A partir das 14h, serão oferecidas três oficinas gratuitas, no Paço do Frevo: 

DESTRINCHANDO AS TRIPAS DA POESIA

Oficina de poesia popular, com Wilson Freire

RABISCAR IMAGENS NA MADEIRA

Oficina de xilogravura, com Marcelo Soares 

CORDEL EM CADA CANTO

Oficina de produção de cordel, com Felipe Junior 

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail [email protected], até que sejam preenchidas as vagas. Os candidatos só precisam informar nome completo, idade, formação/ocupação e nome da oficina pretendida.

A partir das 18h, a Rio Branco celebra a poesia e sua ancestralidade, num bate papo com o homenageado Chico Pedrosa, Bia Marinho, filha do lendário poeta Louro do Pajeú , além do poeta e cordelista Jorge Filó e da poetisa Mariana Teles. Em seguida, as perseverantes raízes fêmeas da poesia popular serão mote para mesa de glosa com as poetisas da nova geração Dayane Rocha, Elenilda Amaral, Erivoneide Amaral e Francisca Araújo. 

O domingo terá pressa para se fazer literário. Já a partir das 10h, a Feira do Livro semeará leituras no Recife Antigo, onde se dará o encontro da literatura com as atividades esportivas e recreativas do Projeto Recife Antigo de Coração.

Às 14h, a Quadrilha Raio de Sol, quarta colocada do 35º Concurso de Quadrilhas Juninas Adultas, realizado pela Prefeitura do Recife em 2019, apresenta seu espetáculo Fábrica de Xilo, obra talhada na cultura popular, no cotidiano encantado do cangaço, da vaquejada, do repente, das figuras reais e fantásticas do imaginário nordestino.

Mais tarde, às 15h, o cordel flerta com as próximas gerações, no projeto Cordel Animado, criado pela contadora de história e cordelista Mariane e sua irmã, Milla Bigio. A programação segue com bate papo sobre Gêneros e gerações numa cantoria de repente, com a poetisa e repentista Fabiane Ribeiro e Oliveira de Panelas, um dos mais renomados repentistas do país.

No encerramento do Festival, música e poesia vão se misturar no projeto Oferendar, de Bodocó, formado pelo patriarca Flávio Leandro e seus rebentos Davi Leandro e Sarah Lopes, com a participação ilustre do homenageado Chico Pedrosa, em carne, osso e rima.

Sobre o homenageado – A programação do Festival este ano presta homenagem a Chico Pedrosa, paraibano predestinado ao verso e à rima, filho da lida artística cuja nascente nunca seca no Nordeste. Seu pai era cantador de coco, sua mãe era sobrinha de cantador e Chico ainda achou de nascer no dia da poesia e do poeta do povo, da praça e do condor, Castro Alves.

Estudou na escola do sítio onde morava só até o terceiro ano primário, começou a escrever folhetos de cordel aos 18 anos, foi camelô e depois se firmou poeta. É pai de dois filhos, incontáveis cordéis e de três livros (Pilão de Pedra I I e II, Raízes da Terra, Raízes do Chão Caboclo – Retalhos da Minha Vida). Teve seus poemas e músicas gravados por gente do quilate de Téo Azevedo, Moacir Laurentino, Sebastião da Silva, Geraldo do Norte e Lirinha. Lançou, ele mesmo, três CDs: “Sertão Caboclo”, “Paisagem Sertaneja” e “No meu sertão é assim”. Aos 83 anos de idade, segue semeando a poesia oral em todas as plataformas, inspirando poetas de várias gerações, nos quatro cantos do país. 

Nas Veredas da Poesia Popular –Trazida da Península Ibérica para o Brasil, a poesia popular nordestina se desenvolveu na Serra do Teixeira, região do sertão paraibano. Mas os caminhos anteriores desta expressão literária remetem aos mouros, povos árabes que ocuparam Portugal e Espanha entre os séculos VIII e XV, muito antes do surgimento do trovadorismo europeu, de onde se atribuía a origem da poesia popular brasileira. Em 1797, nasce Agostinho Nunes da Costa, na região de Teixeira/PB, conhecido como o pai da poesia popular. E, a partir dele, surge o fenômeno da hereditariedade nesta literatura, através de seus filhos, dando continuidade a uma poesia que tem na sua estética regras rígidas de rimas e métricas. 

Com a sua difusão, este tipo de arte passou aparecer, por vezes, acompanhada de rabeca, pandeiro, ganzá, viola ou apenas nas vozes de poetas e poetisas até que, posteriormente, se consolidou com o registro escrito nos cordéis. A cantoria de viola, o coco de embolada, o aboio, o folheto, a poesia matuta são algumas das vertentes de como a poesia popular se apresenta. E a 17ª edição do Festival Recifense de Literatura – A Letra e a Voz percorrerá as veredas desta manifestação nordestina, discutindo suas origens, formatos, heranças, contemporaneidade e o futuro desta arte que se confunde com o próprio Nordeste. 

O fato é que esta forma artística extrapola as fronteiras dos sertões e se espraia nas periferias e nas praias dos diversos litorais: seja com cantadores que fazem das cidades a sua centralidade profissional, seja com cordelistas que tematizam a vida urbana e se irmanam com as dores das grandes metrópoles. Recife é uma destas centralidades, colaboradora da visibilidade do ontem e do hoje, por isso, a importância de por na cena esta temática inesgotável. 

Recife Antigo de Coração – No domingo (1º), integrando e encerrando a programação do Festival de Literatura A Letra e a Voz, a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife vai realizar a edição especial do Recife Antigo de Coração. A programação oferta atividades ao ar livre para todos os gostos e idades. 

Das 9h às 18h30, o Palco Marco Zero contará com apresentações de Carlinhos Monteverde, Adriana B, Anjos da Luz e Vinícius Barros. Já na Rua da Moeda, o palco Dançando na Rua convida grupos de dança para demonstrações dos mais diferentes estilos, das 15h às 19h.

Na Avenida Rio Branco, balanços interativos garantem uma diversão diferenciada para qualquer idade. As crianças têm espaço especial na Avenida Marquês de Olinda, com recreação e brinquedos infláveis, das 9h às 18h. Ainda na Marquês de Olinda, quem curte praticar atividades esportivas vai encontrar espaço para praticar futebol, vôlei, badminton, skate, longboard, slackline, basquete, parkour e muito mais para quem quiser exercitar corpo e mente numa programação só. 

Confira a programação:

XVII Festival Recifense de Literatura – A Letra e a Voz

Nas Veredas da Poesia Popular

Homenagem a Chico Pedrosa

30, 31/08 e 01/09 

Avenida Rio Branco – Recife Antigo

Dia 30 de agosto (Sexta-feira)

18h – Abertura oficial

18h30 – Um Garimpeiro de Sonhos

A Letra e a Voz de Chico Pedrosa

19h – Mas o que é mesmo poesia popular?

Bate-papo com Edmilson Ferreira, J. Borges e Maria Alice Amorim. Mediação de Cícero Belmar

20h30 – Fábrica de Xilo – Apresentação do Grupo Matulão de Dança

Dia 31 de agosto (Sábado)

14h às 17h – Oficinas

DESTRINCHANDO AS TRIPAS DA POESIA

Oficina de poesia popular com Wilson Freire

RABISCAR IMAGENS NA MADEIRA

Oficina de xilogravura com Marcelo Soares 

CORDEL EM CADA CANTO

Oficina de produção de cordel com Felipe Junior 

18h – A poesia e sua ancestralidade

Bate papo com Chico Pedrosa, Bia Marinho, Jorge Filó, Mariana Teles. Mediação de Ésio Rafael

20h – Glosas de Pé-de-Parede

A obra de Chico Pedrosa numa Mesa de Glosas 

Com Dayane Rocha, Elenilda Amaral, Erivoneide Amaral e Francisca Araújo. Coordenação de Susana Morais

Dia 1º de setembro (Domingo)

Festa do Livro 

A partir das 10 horas com editoras, sebos, mediadores de leitura, recitais, atividades lúdico-literárias, lançamentos de livros e bibliotecas comunitárias

14h – Fábrica de Xilo

Com a Quadrilha Raio de Sol

15h – Cordel Animado 

Com Mariane e Milla Bigio

16h – Gêneros e gerações numa cantoria de repente

Com Fabiane Ribeiro e Oliveira de Panelas

17h – Oferendar 

Com Davi, Sarah e Flávio Leandro. Participação especial de Chico Pedrosa