Em um mundo cada vez mais disruptivo, a cantora e instrumentista Bia Villa-Chan tem trabalhado para valorizar e reinventar a cultura musical pernambucana e nordestina, aliando ritmos tradicionais com novas roupagens sonoras. No segundo ano consecutivo no carnaval, ela tem explorado como nunca seu lado de multi-instrumentista nas redes sociais, conquistando novos públicos com vídeos curtos em que toca sucessos nacionais e internacionais com diversos instrumentos.

Para matar a saudade da folia de Momo, ela publicou recentemente o solo do clássico “A Praiera”, de Chico Science e Nação Zumbi, na função Reels do Instagram. Canções de outras regiões brasileiras também fizeram sucesso: “Chorando se Foi”, da Kaoma, bateu 200 mil reproduções. O baixo de “Sultans of Swing”, do Dire Straits, alcançou quase 3 milhões de usuários, atraindo públicos da Rússia e dos Estados Unidos.

“Está sendo muito gratificante esse retorno, pois tivemos de nos reinventar de alguma forma na pandemia. Como manter viva a nossa arte no coração das pessoas? Montei um home studio em casa e comecei a mostrar mais esse meu lado”, diz Bia Villa-Chan. “O bandolim, que é o meu principal instrumento, é mais prático, porém também é inusitado e raro de ser tocado. Peguei contrabaixo e guitarra para tocar músicas e artistas que são referências para mim, do frevo ao rock”.

Foto: Riccardo Alves

Carnaval

Antes do recente agravamento da pandemia pela disseminação da variante ômicron, Bia Villa-Chan foi uma das artistas que defendeu o diálogo para encontrar saídas e alternativas para a classe artística, participando ativamente de audiências na Câmara do Recife. “Com a chegada da variante ômicron tudo mudou, tivemos uma nova sobrecarga do sistema de saúde novamente, muito por conta dos não vacinados. Mais uma vez pedimos para que as pessoas se vacinem”, reforça a artista.

“A situação dos artistas é muito complicada. Falo também dos músicos que estão parados. Pessoal da produção, técnicos e profissionais de trio elétrico que estão vendo a hora de colocar o trio num museu: não conseguem manter os equipamentos, pois não têm uso”, lamenta.

“O que nos aliviou um pouco foi a possibilidade do carnaval ocorrer em outra data. Essa festa divulga a cultura popular. O frevo, o afoxé, o caboclinho, o maracatu estão sendo esquecidos na mente das pessoas. Me preocupo com essa juventude que não está vendo nada disso. O carnaval é uma manutenção da cultura de Pernambuco, mantendo esses ritmos vivos.”

Álbum de frevo com o baiano Armandinho Macêdo

Bia Villa-Chan está preparando um disco de frevo, para comemorar os 115 anos do ritmo, em parceria com o baiano Armandinho Macêdo, grande divulgador do frevo e da guitarra baiana no carnaval de Salvador. Os artistas colaboram desde 2019, tendo se apresentado juntos no circuito Barra-Ondina, no carnaval da Bahia, em 2020.

“O frevo nasceu em Pernambuco, mas passou pela Bahia, onde ganhou um sotaque mais pop pela presença da guitarra distorcida, que tirou o ritmo das redomas das grandes orquestras. A guitarra traz uma nova linguagem ao frevo, uma linguagem diferente, popular”, comenta Bia.

“Também irei trazer o bandolim para o frevo de rua, uma mistura que não é comum. Queremos desenvolver releituras com novas perspectivas. Como será o frevo no futuro? Como vai ficar? Queremos fazer essa mistura de influências e identidades, o frevo daqui com o frevo feito lá na Bahia, que, como diria Moraes Moreira, tem um “sotaque baiano'”, finaliza.

Sobre Bia Villa-Chan

Bia Villa-Chan iniciou a carreira musical profissional em 2018. Nesse período, lançou os EPs “Pedacinho de Mim” e “GiraSons”. Colaborou com nomes como Alceu Valença, Armandinho Macêdo, Luiz Caldas, Maciel Melo e vem ganhando cada vez mais destaque nas redes sociais.

Também já amealhou o prêmio de Melhor Cantora de MPB, na 10ª edição do Prêmio da Música de Pernambuco, e  condecorada com prêmios como Troféu Gonzagão, considerado o “Oscar da música nordestina”, entre outros. Participou de grandes eventos de festividade popular, como Galo da Madrugada do Recife e de São Paulo, e Circuito Barra-Ondina, em Salvador.

O sucesso vivenciado, hoje, ecoa uma relação com a música iniciada aos 6 anos de idade, quando Bia aprendeu com o avô Heitor Villa-Chan, um dos criadores do bloco Pirilampos de Tejipió (citado na clássica canção Valores do passado, de Edgar Morais). Autodidata, ela passou a dominar com naturalidade instrumentos como a guitarra, o contrabaixo, a bateria, o clarinete, o sax e o piano.