A intenção é estabelecer, posteriormente, estratégias para amenizar possíveis impactos da SARS-Cov-2 em mulheres grávidas e bebês
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) participa de uma pesquisa mundial que pretende entender os impactos da Covid-19 em mulheres grávidas e seus bebês. O objetivo é desenvolver, futuramente, estratégias de cuidado materno-infantil em períodos calamidade pública. O estudo é patrocinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e coordenado, no Brasil, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Além do Hospital das Clínicas da UFPE, também participam centros de São Paulo, Minas Gerais, Pará, e Rio Grande do Sul. Pelo menos outros seis países participam da pesquisa: Argentina, Chile, Índia, Bangladesh, Irã e Quênia.
No Brasil, os pesquisadores vão contar com o investimento inicial de 220 mil dólares da Organização Mundial da Saúde, montante que será utilizado principalmente para preparar as 10 maternidades e equipes selecionadas para participar do estudo. A previsão é receber 800 mil dólares adicionais da Organização ao longo dos próximos dois anos, para poder acompanhar gestantes e bebês durante o pré-natal, o parto e o puerpério (seis semanas após o parto).
O objetivo é determinar se a infecção pelo SARS-Cov-2 (Covid-19) durante a gestação aumenta o risco para problemas na mulher ou recém-nascido. Além disso, o estudo poderá quantificar a taxa de transmissão vertical (da mãe para o bebê ainda sem nascer) e pós-natal. Ao abordar, de forma padronizada, questões chaves quanto à coleta e à análise de dados, o estudo permitirá a junção e comparação das informações de diferentes instituições e dos outros países participantes. Com isso, os centros podem desenvolver estudos padronizados e com os mesmos parâmetros, tornando facilmente comparáveis e gerando conclusões muito mais seguras e eficazes.
O foco está na aplicação de um protocolo de pesquisa elaborado pela OMS e adaptado à
realidade de cada centro. Esse protocolo de pesquisa investiga os desfechos da gestante ou puérpera que foi exposta ao vírus, e as compara com as que não foram infectadas. “Intencionamos esclarecer os impactos da infecção pelo vírus do Covid-19 na gestação e puerpério, bem como o efeito protetor dos vários tipos de vacinas. Portanto, é importante coletarmos dados referentes tanto aos aspectos da gestação em si como aos aspectos da
infecção, como sintomas que as mulheres tiveram numa eventual infecção pelo vírus do Covid-19 ou em consequência à vacinação. A compreensão dos desfechos da gravidez (como hipertensão, parto prematuro, ou restrição de crescimento do feto) nos ajudará a manejarmelhor essas mulheres afetadas pelo Covid-19”, explica a Profa. Dra. Debora Leite, médica obstetra e coordenadora local do estudo.
Podem participar da pesquisa as gestantes que estejam no pré-natal ou durante o internamento hospitalar, seja na enfermaria de gestação de alto risco ou internadas para o parto no Hospital das Clínicas. A triagem inicial inclui entrevistas e exames laboratoriais, mantendo-se o sigilo quanto à presença de infecção Covid-19 na gestação. Posteriormente, os dados anônimos das participantes serão analisados mediante a comparação entre quatro grupos: mulheres vacinadas que tiveram diagnóstico de Covid-19; vacinadas que não tiveram Covid-19; não vacinadas que tiveram Covid-19; e não vacinadas que não tiveram Covid-19. Além disso, após o parto, os pesquisadores coletam sangue do cordão umbilical para realização de exames e fazem ainda a biópsia da placenta, enviando o material para análise histopatológica.
Único do Nordeste
O Hospital das Clínicas da UFPE foi o único do Nordeste a ser selecionado para participar desta pesquisa. Atualmente, no setor ambulatorial do hospital, são realizados cerca de 350 atendimentos mensais de pré-natal de alta complexidade. Aqui em Pernambuco, a pesquisa teve início em janeiro de 2022 após a aprovação dos aspectos éticos em humanos. Segundo a coordenadora, Profa. Dra. Debora Leite, até o momento foram convidadas mais de 100
participantes, e a meta é incluir cerca de 300 gestantes e puérperas.
De forma preliminar, os pesquisadores já sabem que a infecção pelo coronavírus não parece estar ligada a um risco de malformação fetal, e que a transmissão da doença da mãe para o bebê, se mostrou um evento possível, porém raro e geralmente sem gravidade para a saúde da criança. Também já foi constatada a segurança para a amamentação.