“A arte é um manifesto – 30 anos de Devotos” ficará em cartaz no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, até o dia 26 de agosto de 2018. Quase 2 mil pessoas já visitaram a mostra

A exposição “A arte é um manifesto – 30 anos de Devotos”, do multiartista Neilton, foi prorrogada até o dia 26 de agosto de 2018, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam). A visitação da mostra seria encerrada neste domingo (15). Com mais de 1.700 visitantes desde a sua abertura, no último dia 09 de maio, a exposição apresenta um passeio pela história da Devotos, uma das bandas mais importantes e influentes de Pernambuco, com a exibição de mais de 60 peças. A visitação é aberta ao público e a entrada é gratuita.

Na exposição “A arte é um manifesto – 30 anos de Devotos”, o público pode conferir desde os quadros criados especificamente por Neilton, que também é curador da mostra, como base para os projetos gráficos dos seis discos de estúdio, um ao vivo e dois vinis do grupo, além de raridades como backdrops, pôsteres, ingressos e capas de fitas demo. Tudo fruto de um trabalho desenvolvido de forma independente desde a década de 1980 até hoje. O texto de apresentação da mostra é assinado pela historiadora Heloísa Buarque de Hollanda.

A exposição “A arte é um manifesto – 30 anos de Devotos” é uma realização de Neilton e do Grão Coletivo (Auroras, Criativo Soluções, Feed Comunicação Grão – Comunicação e Cultura). A mostra conta com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE), Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Secretaria de Cultura de Pernambuco e Governo de Pernambuco.

Formada por Cannibal (baixo e vocal), Celo Brown (bateria) e pelo próprio Neilton (guitarra), a Devotos é uma banda que está na estrada desde 28 de fevereiro de 1988. Apesar de não ter integrado a primeira formação, Neilton assumiu um papel fundamental na imagem e sonoridade da banda. Em 1989, ao entrar para o grupo formado no Alto José do Pinho, no Recife, o então adolescente de 16 anos acumulou as funções de guitarrista, de artista visual e de designer, criando uma logo, desenvolvendo os cartazes dos shows e fazendo a capa da primeira fita K7 demo do grupo. Tudo bem de acordo com a filosofia do punk, o chamado “Do It Yourself”.

E foi no esquema “faça você mesmo” que Neilton aprendeu tudo o que sabe. Desde criança, ele já desenhava. Na adolescência, passou a pintar camisetas para vender, como forma de conseguir algum dinheiro para seguir fazendo música. Cada camisa era exclusiva, peça única. Depois passou para as telas e não parou mais. De lá para cá, só da própria Devotos, o artista criou seis capas de discos. Para isso, ele primeiro desenha ou pinta vários quadros para depois escolher o que vai entrar no projeto gráfico, o que vai ser capa, o que vai para o encarte, o que vai ser pôster, etc.

Assim, a cada novo CD, EP ou vinil, Neilton foi se firmando cada vez mais como artista visual. “Em 1996, a Devotos conseguiu um contrato com a gravadora BMG. Então foi o momento de estrear a minha primeira capa de um CD. Fiz mais de 20 aquarelas para alguma ser escolhida para a capa. Foi aí que vi que meus desenhos e pinturas valiam alguma coisa. Alguém da direção artística da gravadora se interessou em comprar uma dessas aquarelas e terminei com boa parte delas vendidas! Depois dessa experiência, tive mais segurança para me aventurar no mundo das artes plásticas pra valer”, relembra.

Na exposição “A arte é um manifesto – 30 anos de Devotos”Neilton ocupa completamente dois andares do Mamam, um dos mais conceituados museus de Pernambuco. A mostra funciona como um panorama de duas de suas carreiras, a de artista visual e de músico. Tudo ao mesmo tempo. “Atualmente eu toco com a Devotos e com o poeta e músico Lirinha. Pinto, desenho, faço projetos gráficos e ilustrações para algumas capas de CD e vinil para vários artistas. Tenho um trabalho com projetos de caixas acústicas e amplificadores valvulados para instrumentos musicais elétricos, a Altovolts”, conta.

A exposição está distribuída por quatro salas em dois andares do Mamam. Na primeira sala, o público encontra três aquarelas, que serviram de base para o projeto gráfico do primeiro disco da banda, o “Agora tá valendo” (1997); seis telas em tinta acrílica resultantes do trabalho desenvolvido para o CD também intitulado “Devotos” (2000); e mais quatro aquarelas, um quadro bico de pena e um carvão sobre papel, que integraram o projeto gráfico do disco “Hora da Batalha” (2003).

Ainda na primeira sala, estão expostos outros diversos itens, com destaque para uma réplica de backdrop, que era usado nos palcos por onde a banda fazia shows e diversas peças de memorabilia, o corpo da primeira guitarra comprada por Neilton, bem como o primeiro instrumento que ele mesmo montou, o primeiro baixo de Cannibal e até mesmo a capa do que poderia ter sido o primeiro compacto em vinil do grupo.

Na segunda sala do primeiro andar, o público é convidado a fazer uma imersão no mundo dos shows da Devotos através de uma intervenção idealizada e realizada nos palcos durante os shows da turnê de 25 anos. Em três backdrops pintados por Neilton, são projetados três vídeo mapping do artista multimídia Gabriel Furtado, membro fundador do coletivo Media Sana, usando algumas obras pelo próprio guitarrista como conteúdo. Tudo isso ao som do grupo. Entre um andar e outro do Mamam, o artista aproveita para exibir mais dois backdrops resultantes de mais uma de suas telas.

Ao chegar ao segundo andar, o público encontra quatro quadros com desenhos em bico de pena que foram incluídos no design do disco “Flores com Espinhos para o Rei” (2006); um díptico em tinta acrílica realizado especialmente para o CD “Póstumos” (2012); dois trabalhos em bico de pena integrantes do projeto gráfico do vinil “Victoria” (2010), que é o primeiro vinil da Devotos, lançado na França; um quadro em tinta acrílica em que o artista retrata a vizinhança do Alto José do Pinho; e mais duas acrílicas inéditas.

Ainda no segundo andar do MamamNeilton selecionou vários clipes da Devotos para exibição, além do documentário “Punk Rock Hardcore” (1995), de roteiro e direção de Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Para completar, a exposição também apresenta fitas demo, CDs, vinis, camisetas e vários cartazes de diversas fases da banda, desde os anos 1980, que foram criados pelo artista para divulgar os shows da banda, além de outros pôsteres de apresentações da banda por todo o mundo.

Sobre Neilton – Nascido no Recife, em 1971, Neilton é músico, artista visual, designer gráfico e desenvolvedor eletrônico de amplificadores para instrumentos musicais. Formado em artes gráficas na Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam), é o responsável pelas capas dos vinis e CDs da banda de punk rock Devotos desde 1997, banda em que é guitarrista, onde, junto a seus companheiros, já realizou várias turnês pelo Brasil e Europa. Entre as publicações importantes que já participou, o artista destaca o convite para ser tema da matéria principal e ilustrador da capa da revista Continente (número 190).

Como artista visual e designer, Neilton também ilustrou diversas capas de discos, sites e DVDs de bandas como Cordel do Fogo Encantado, Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, Cascabulho, Academia da Berlinda, The Baggios, Fernandes, Mamylove (cantora africana radicada na França), entre outros. O multiartista ainda é um dos fundadores do Grupo de Pesquisa de Tecnologias Mortas, o Altovolts. Desde 2006, o grupo estuda/pesquisa e desenvolve linhas de amplificadores para instrumentos musicais atendendo músicos de todo o Brasil.